sábado, 27 de dezembro de 2008

POR FAVOR, SUCESSO - LIVERPOOL

Para quem gosta de Mutantes, e das bandas que eles influenciaram, aí está uma boa dica. Liverpool foi um grupo gaúcho, que além dos já citados Mutantes, recebia também uma grande de Jefferson Airplane. Infelizmente, gravaram apenas um LP, esse aí em cima, intitulado Por Favor, Sucesso (1969). A obra é muito interessante, avaliada pelo ponto de vista experimental. Um reflexo muito forte do movimento tropicalista, que naquele instante estava praticamente varrendo o Brasil. Vale lembrar, que a Tropicália, não só influenciou a música, como também o teatro, e até mesmo o Cinema Novo, tendo sua expressão em Glauber Rocha. Mas voltando ao assunto música, Fernando Rosa, na revista ShowBizz fez o seguinte comentário sobre a Banda Liverpool: “Abrindo com a faixa título, o disco reúne um conjunto de ótimas composições, com instrumental acima da média e letras inteligentes e expressivas do cotidiano da juventude da época. Destacam-se no disco as ultra-psicodélicas "Olhai os Lírios do Campo", "Impressões Digitais" e "Voando", todas com um impressionante trabalho de guitarra - com distorção no talo e harmonias rebuscadas. A quase bossa-rock "Planador", a tropicalista "Paz e Amor", o folk-rock "Tão Longe de Mim" e o boogie stoniano "Que Pena" mostram a diversidade das composições assinadas por integrantes do grupo, pelo já citado Hartlieb e, ainda, pela dupla Hermes Aquino e Lais Marques”. A observação pessoal que lanço sobre a obra, é a de que ela vale ser ouvida, e demonstra uma riqueza que as vezes não sabemos, ter pertencido ao cenário da música nacional. Na década de 70, alguns remanescentes formaram uma banda de hard rock chamada Bixo da Seda.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

ABRE-TE SÉSAMO

Toca Raúl! Essa talvez seja a frase que todo freqüentador de “pub” tupiniquim já tenha ouvido. Sempre que há som ao vivo, alguém sai com essa frase. Teremos nesse blog uma boa quantia de material nacional, inclusive do Raúl. E o escolhido para inaugurar essas opiniões diversas, foi o álbum Abre-te Sésamo. O contexto era 1980, Governo do então General João Baptista Figueiredo, e o Brasil estava caminhando para o seu processo de abertura política. Por isso o nome do cd, ser sugestivamente Abre-te Sésamo. O próprio Raúl em entrevista na época, fazia tal afirmação. Essa entrevista está disponível nos arquivos do Raúl Rock Clube. Toda a obra tem uma certa polêmica. A começar pela primeira música, homônima ao disco, e que inicia com esses versos “E lá vou eu de novo, um tanto assustado com Ali Babá e os 40 ladrões”, crítica mais direta do que essa impossível, ainda mais levando em consideração o momento em que vivíamos. A faixa 2 traz a irônica Aluga-se, regravada posteriormente, Anos 80 emplaca como a terceira música, e é um panorama dessa década que apenas se iniciava, mas que Raúl já chamava de “charrete que perdeu o condutor”. A grande polêmica, porém, se deu com a música número 7, a nacionalmente conhecida “Rock das Aranha”. A música trata de duas vizinhas, flagradas em uma relação homossexual, e o expectador, no caso o próprio Raúl, torcendo para ser chamado a participar da “festinha”, fictícia ou não, a verdade é que a música caiu nas graças da censura, ou melhor, não caiu nas graças da censura, e teve sua radiodifusão e apresentação proibidas. Na minha opinião, o disco poderia acabar na música 10, “Baby”, uma das canções mais sensuais, eróticas, românticas e apaixonadas que já ouvi, se é que conseguimos colocar tudo isso numa obra só. Para terminar deixo aqui uns versos da citada: “A mancha do batom vermelho / porque esconder no lençol / se dentro da imagem do espelho / baby, baby, o inferno é o fogo do sol...".

PRESTO - RUSH

O Rock Progressivo, é uma tendência que tem suas raízes no final da década de 70 e também nos anos 80. Nesse cenário, uma banda que se destaca que tem uma certa influência, são os canadenses do Rush. O grupo começou no início dos anos 70, lançando seu primeiro álbum em 1974, influenciado por King Crismon, Pink Floyd, Gênesis, Yes, Jimi Hendrix, Gentle Giant, Cream, Black Sabbath, entre outros. Pelo número e peso das influências já podemos imaginar o “conteúdo” forte da banda. Mas foi em 1989, que o Rush lançou a obra que é considerada um marco. Realmente esse cd tem uma característica forte de ser a transição entre o uso exacerbado de sintetizadores, para uma ênfase mais conceitual na guitarra. É interessante perceber como esse álbum, quando comparado com outros da banda como 2112 (1976), A Farewell To Kings (1977), Moving Pictures (1981), apresenta uma carga sonora muito mais forte e intensa. É como se os membros da banda quisessem mostrar que além de extremamente tecnológicos, também eram, como continuam sendo, de um nível profissional elevadíssimo. E não estou exagerando em nenhuma afirmação. A música que eu considero uma das mais intensas, é aquela que dá o nome ao cd, e se encontra na faixa 6: “eu sou feito / do pó das estrelas / e os oceanos correm / em minhas veias / aqui eu me escondo / no coração da cidade / como um estranho / vindo da chuva”. A levada das guitarras também é sensacional, numa marcação de tempo que deixa qualquer um louco de inveja.

LIVING WITH WAR


Álbum do ícone do rock and roll Neil Young. Caso você não conheça esse nome, procure urgentemente informações sobre. Obras do Neil Young fazem parte da discografia de praticamente todos os roqueiros de plantão, e porque não dizer dos amantes da boa música. Living with war foi lançado em 2006, e expressa um lado irônico, sempre presente nas obras de Young. Apesar de canadense, sua obra é extremamente reconhecida e adorada nos Estados Unidos, e o próprio cantor se considera inserido nas características do país. Como um americano por adesão, ele não poderia calar-se (como muitos fizeram), diante das loucuras cometidas pelo Bush Filho. E nesse cd as críticas ao regime Bush são ferrenhas e causticas. É só começar a ouvir o disco pela faixa 7, que traz por título Let´s Impeach the President, onde o impeachment do Presidente Bush é pedido não só por Neil Young, mas por uma série de crianças, mais de 100 ao todo. Além do presidente, a crítica também é direcionada aos americanos, que são coniventes com o governo de Assurbanipal. E não pensem vocês que a mensagem está velada, muito pelo contrário, a música já começa rasgando o verbo “Vamos derrubar o presidente por mentir / E por levar o país a guerra / Abusando do poder que lhe demos / E mandando todo nosso dinheiro porta fora”. Contundente, forte e marcado por uma sonoridade que somente Neil Young é capaz de conferir. Sobre as melodias das músicas então, torna-se praticamente desnecessário qualquer comentário. Young há muito se consagrou como pertencente ao grupo dos melhores guitarristas de todos os tempos. Com uma pegada que mistura rock, country, folk, e mais uma infinidade de estilos, tornam Neil Young um guitarrista completo.

O BARCO ALÉM DO SOL

Marcelo Bonfá, baterista da banda Legião Urbana, conseguiu se destacar como letrista, mesmo que discretamente, ainda na época da banda. Em 2000 lançou “Barco Além do Sol”, uma obra que vale a pena ser ouvida. Letras pequenas, com poucos versos, mas com uma certa força. Timbre suave e musicalidade natural, são as características básicas de sua voz, o que contribui para o cd ganhar uma conotação muito agradável. A primeira música “Depois da Chuva” traz alguns versos bem poéticos, e com características românticas e suaves como por exemplo: “o futuro é aprender a ler aquilo que não está escrito / são pequenos sinais nas nuvens e nas estrelas” ou então “nessas horas eu chego a acreditar / que certas vezes o melhor é se entregar à ilusão”. Algo que surpreende também, é a melodia, que por vezes durante as músicas, sofre uma “quebrada” como se diz na linguagem popular, e surpreende o ouvinte. Para Bonfá, que conviveu por anos, com o monstro poético Renato Russo, conseguir fazer uma obra com uma marca independente e pessoal, é um verdadeiro desafio. Talvez tenha ficado com ele parte desse legado poético. Pena que o cd vendeu cerca de 30.000 cópias, e não chegou a ganhar notoriedade nacional em grandes dimensões. Talvez tenha sido falta de um jabá. Mas é um disco recomendado e muito bom.

EQUILIBRIO DISTANTE

Flutuando, essa é a melhor palavra para descrever a sensação que se tem ao ouvir essa peça. Lançado em 1995, e com uma trupe de músicos conceituados, liderados por Carlos Trilha, Renato Russo mais uma vez (sem trocadilhos com a música do cd Presente), demonstrou seu talento. Talento esse incontestável e inquestionável. O mais interessante é perceber nele o caráter artista, gênio musical. Antes da concepção do cd, Renato, que nesse momento já se encontrava num estagio avançado da doença (vale lembrar que ele morreria por males decorrentes do HIV, em 11 de outubro de 1996), foi à Itália, para além de entrar em contato com suas origens, já que os sobrenome Manfredini, tem origem no berço de Rômulo e Remo, coletar material para um cd em italiano. Durante sua estadia, além de bons passeios culturais, o Trovador Solitário comprou mais de 200 cds, ampliando ainda mais sua coleção. E selecionou algumas músicas para gravar. Muitos “intelectuais”, com os quais ele entrou em contato, ficaram pasmos ao serem informados que dentre os intérpretes escolhidos por ele, estava Laura Pausini, considerada pop demais e até mesmo medíocre por alguns críticos. Mas o grande gênio foi em frente, e gravou sucessos como Strani Amori (este virou clipe, e foi o último em que Renato apareceu), La Solitudine, que ganharam uma nova forma na voz de Renato Russo. Sem contar La Forza Della Vita, que fez parte da trilha sonora da novela Rei do Gado, música fundo para a personagem de Lavínia Vlasak. Outro detalhe que chama a atenção também, é o encarte, de um extremo bom gosto, num jogo de cores e desenhos que deixaria os modernistas de 22 extremamente orgulhosos.